Memória olfativa

Um dos sentidos do corpo humano

Quem é que nunca sentiu o cheiro de um café fresco e logo lembrou do primeiro encontro que teve com seu par? Quem é que nunca sentiu um cheiro de morango e logo pensou “poxa, tem cheiro de infância, que saudades”? Todos nós, não é? O nome disso é memória olfativa.

A memória relacionada ao olfato é vista como a mais potente de todas e isso tem total relação com a maneira como a informação dos sentidos chega no cérebro. Para conhecer melhor esse fenômeno, primeiro precisamos entender o olfato.

Preparamos um artigo sobre memória olfativa, confira!

“Essa é a parte em que as imagens cerebrais mostram onde as memórias residem? 

Uma forma ambígua em mim, repentinamente produzindo luz 

Acionada como uma armadilha, toda vez que eu respiro” — Smell  (Sleeping at Last)

A música da banda estadunidense Sleeping At Last, lançada em 2016, é um dos vários exemplos do impacto que a memória olfativa possui em nós. Desde um aroma doce capaz de resgatar memórias de infância até um perfume característico que lembra uma pessoa especial que lhe transporta para um outro tempo.

O que é memória olfativa?

É exatamente esse sentimento profundo e vívido que caracteriza a memória olfativa, que acabou levando também o nome de memória proustiana ou memória involuntária devido ao autor. Ela se difere, por exemplo, das memórias que fazemos um esforço consciente para lembrar no dia-a-dia e normalmente não envolvem sentimentos intensos. E justamente por isso, tornou-se tão marcante. 

Sentido do Olfato

Dentre os cinco sentidos humanos, o olfato é o mais primitivo e o menos desenvolvido comparado ao resto dos mamíferos. Porém, ele ainda possui extrema importância para a nossa sobrevivência e sua perda traz diversas dificuldades.

Embora não sejamos animais carnívoros em busca de uma presa, o olfato é fundamental para detectarmos substâncias tóxicas no ar, por exemplo, além de ter um papel importante nas relações sociais e agir diretamente no bem-estar. É o único dos cinco sentidos ligado ao sistema límbico, parte do cérebro responsável por gerenciar nossas emoções, por isso também a memória olfativa é tão marcante. 

O caminho que leva o aroma até o cérebro começa quando o ar entra pela cavidade nasal e atinge as células olfativas, que transportam o estímulo ao nervo olfatório. Esse, por sua vez, transforma o estímulo químico em elétrico e o leva até o sistema nervoso, que identifica o cheiro. O olfato ainda possui uma conexão direta com um outro sentido: o paladar.

Quando comemos, as papilas gustativas presentes na língua conseguem apenas diferenciar cinco tipos de sabor, sendo o gosto que realmente sentimos dos alimentos totalmente dependente de seus cheiros e do olfato. 

O Olfato e a Memória

Homem cheirando um copo de café | Foto por Battlecreek Coffee Roasters no Unsplash

A relação tão característica entre o olfato e a memória é a mesma que faz do sentido o mais sentimental: a proximidade do bulbo olfativo com o sistema límbico, a amígdala e o hipocampo, partes do cérebro responsáveis pelas emoções.

É por isso que, quando sentimos um cheiro, imediatamente guardamos na memória relacionando-o de forma direta a algo que sentimos naquele momento específico. E ao sentir novamente este mesmo cheiro, mesmo que passados anos, a mesma memória é reativada de maneira instantânea e bastante intensa. 

A memória olfativa tem intrigado e sido motivo de muitos estudos na tentativa de desvendá-la por completo. O primeiro deles que se tornou conhecido foi o experimento realizado na Universidade de Utrecht, na Holanda, em 2012.

Ele consistia em reunir 70 estudantes em uma sala e mostrá-los vídeos que provocam desconforto, como cenas de violência. Ao mesmo tempo em que os vídeos eram exibidos, os pesquisadores procuraram estimular os diferentes sentidos dos voluntários com aroma de cassis, luzes coloridas e uma música definida como “neutra”. 

Então, após uma semana, o mesmo grupo foi dividido em três e para cada um deles foi repetido apenas um dos estímulos anteriores. Os resultados apontaram que os estudantes expostos ao aroma de cassis se lembraram mais dos vídeos e relataram ter sentido um desconforto mais intenso. 

O Poder da Memória Olfativa

A memória olfativa é um recurso amplamente utilizado pela publicidade para tornar marcas mais memoráveis e criar conexões com os consumidores. Um exemplo dos mais conhecidos no Brasil é a marca de calçados Melissa, que possui um aroma extremamente característico presente desde sua criação, há mais de 40 anos. A ideia de incluir um cheiro na marca foi uma estratégia de marketing que propunha os produtos como mais que sapatos, mas uma experiência. 

E deu certo até demais. A Melissa conquistou vários “fãs” extremamente dedicados e que constantemente declaram nas redes seu amor pelos sapatos. O aroma inconfundível, agora visto como nostálgico, já foi usado em perfume, spray para ambientes e até mesmo em um álcool em gel personalizado pela marca devido à pandemia do coronavírus. 

Perfumes, frequentemente associados à memória olfativa | Foto por Arisa Chattasa no Unsplash

Isso tudo ocorre devido à potência da memória olfativa e o fascínio que temos por ela. Há séculos, esse fenômeno nos intriga e além de tentarmos compreendê-lo, também o manifestamos através da arte. O mais clássico registro data de 1913, no livro “Em Busca do Tempo Perdido” de Marcel Proust. Na obra, o escritor relata: 

“E de repente, a memória se revelou. O sabor foi a do pequeno pedaço de madeleine das manhãs de domingo em Combray. Quando eu ia para dizer bom dia para ela em seu quarto, minha tia Léonie costumava me dar, mergulhando-o pela primeira vez em sua própria xícara de chá ou tisana. A visão da pequena madeleine não tinha me recordado nada até eu prová-la. E tudo a partir de uma xícara de chá.”

Como você pode notar, a memória olfativa pode ser encantadora e nos surpreender, além de trazer um aconchego!

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